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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

BELO HORIZONTE - Pampulha



ARTE   EM  CURVAS


“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.

 Óscar Niemeyer

Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek, então Perfeito de Belo Horizonte nos anos 40, quando tinha 33 anos.
Trabalhara já em trabalhos públicos com a equipa de Lúcio Costa tendo o privilégio de acompanhar ao Rio o mestre suíço Le Corbusier, com quem aprende bastante e começa a traçar as linhas do seu próprio projeto arquitectónico.

Juscelino Kubitschek idealizara para a sua cidade uma zona nobre, original, com um lago artificial. Escolheu no norte de Belo Horizonte uma fazenda cujos proprietários eram originários do bairro lisboeta denominado Pampulha e resolveram perpetuar esse nome na sua propriedade.
O nome ficaria também para sempre ligado a um dos mais arrojados projetos arquitetónicos do Brasil de Óscar Niemeyer. O complexo inclui um casino, uma sala de dança e restaurante, um iate clube, uma igreja, um Museu de Arte e um clube de golfe, os quais estão distribuídos em volta do lago artificial.

Este projeto foi concluído em 1943 e recebeu aclamação internacional no Museu de Arte Moderna em Nova Iorque (MoMA).

Niemeyer cria um estilo próprio, afasta-se do estilo corbusiano e projeta volumes curvos, explorando o conceito de "promenade architecturale", na qual rampas-passagens parecem flutuar, guiando as pessoas através do edifício ao mesmo tempo que observam a paisagem, tal como acontece na Casa do Baile.
Imagino os vestidos redondos e volumosos das senhoras dos anos 50, que frequentavam os bailes e rodopiavam nos seus passos de dança.

Vista geral da Casa do Baile

As curvas para chegar à Casa do Baile

Interior da Casa do Baile

Bancos redondos para observar o lago

Pequeno lago com bolas artísticas



O Museu da Arte mantém as linhas redondas em estreita harmonia com o lago artificial que o enquadra, numa relação natural e harmoniosa  entre o interior e o exterior. As estátuas deste edifício sugerem uma visita e coabitam com jardins bem cuidados.

Vista geral do Museu de Arte

Estátuas exteriores do Museu de Arte

Deste conjunto artístico que influenciou toda a arquitetura moderna brasileira fazem também parte o Iate Ténis Club, o Casino e outras opções de lazer que os habitantes da cidade usam com gosto.

Mas o que me seduziu mais foi a Igreja de S.Francisco de Assis. Acho que todas as Igrejas de S.Francisco que vi têm uma beleza e uma riqueza extraordinárias, embora com estilos diferentes. O Francisco rico que escolheu a pobreza inspirou riquíssimas obras de arte por todo o mundo católico.


Vista frontal da Igreja de S. Francisco de Assis

Vista lateral da Igreja S. Francisco de Assis

Vista geral dos azulejos da Igreja S.Francisco de Assis

Este foi o primeiro edifício moderno a ser tombado no Brasil. Não é a dimensão que surpreende, mas novamente a leveza, a harmonia e a originalidade das formas curvas. Aproveitando a geometria do arco parabólico criou-se a unificação das paredes e do tecto, dando a sensação de uma monumentalidade anti vertical. Esta exuberância estética foi magnificamente completada com os azulejos no interior de Portinari que retratam a via sacra, murais de Paulo Werneck e na parte externa os jardins elaborados por Burle Marx.

Painel de azulejos de Portinari

Pormenor do painel de azulejos de Portinari



Painel de azulejos de Portinari

Pormenor do painel de azulejos de Portinari


Acho que S. Francisco de Assis fosse vivo quando esta Igreja foi inaugurada em 1943, ficaria maravilhado porque devia gostar das obras significativamente simples, mas a igreja católica só em 1959 é que a aceitou como templo de oração.

Painel interior da Igreja de S.Francisco de Assis

Disse Niemeyer: a Pampulha ofereceu-me a oportunidade de desafiar a monotonia da arquitetura contemporânea, a onda do funcionalismo mal interpretado que a limitava, e os dogmas de forma e função que havia surgido, contrariando a liberdade de plástico que o concreto permitia". 

Esta experiência também permitiu as primeiras colaborações entre Óscar Niemeyer e Roberto Burle Marx, considerado o mais importante paisagista do século XX. Eles seriam parceiros em muitos projetos nos próximos 10 anos, uma colaboração que produziu alguns dos melhores resultados em suas carreiras.

Juscelino Kubitschek gostou do trabalho que seria Niemeyer o grande arquiteto de Brasília a capital que fundou no meio do deserto planalto central brasileiro.



...irei continuar com Óscar Niemeyer numa visita a Brasília, o sonho realizado de Juscelino Kubitschek.


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