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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

S.PAULO - Edifícios e ruas



"São Paulo é a expressão do espírito yankee amenizado e perfumado pela graça do gosto italiano"

Rui Barbosa (1849-1923)



Devo dizer que as minhas expetativas relativamente a S. Paulo eram baixas. Talvez porque a vida desta mega metrópole não esteja virada para o turista nem promovida como destino de lazer (procurei e não encontrei um posto de turismo, nem um mapa ilustrativo das atrações turísticas), talvez porque me agradem cidades mais pequenas, intimistas, com unidade.

Aqui trabalha-se, ganha-se, luta-se, a filosofia é diferente do Rio e a história também.

Quando os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta planearam fundar esta cidade em 1554, pensaram no relevo, planalto defensável, na situação perto do mar para escorar produtos, no clima temperado para facilitar o trabalho, na localização geográfica a meio do Brasil. Aqui poderiam construir um império financeiro, longe do poder administrativo e com a independência necessária aos seus fins económicos e evangelizadores. Chamaram-lhe S.Paulo. Quando se planeia geralmente obtêm-se os resultados pretendidos. Hoje é um dos maiores impérios financeiros do mundo!

Transformou-se tão rapidamente que quase nada existe do período histórico da sua fundação. E é pena!... Casas apalaçadas dos senhores do café e do minério foram substituídas quase todas por cimento armado, cada vez mais alto a imitar Nova Iorque.

S.Paulo-Edidicio Martinelli e outros...
Os que podem, também à semelhança de Nova Iorque, também optam pelo helicóptero para se deslocarem rapidamente. Apesar das avenidas largas, a dimensão da cidade é gigantesca e o trânsito ressente-se.


Realmente o volume de negócios movimentado diariamente, gera toda uma dinâmica agregadora de população de todo o país e de todo o mundo, nas várias épocas e devido a convulsões sociais distintas.

É absolutamente multicultural: italianos, japoneses, polacos, espanhóis, portugueses cruzam-se nas ruas apressadamente porque tempo é dinheiro. Agora já não pensam voltar ao país de origem, contribuem sim e decisivamente para aumentar a riqueza da região mais rica do Brasil e uma das mais populosas.

Retomando a época da fundação, a população que luta para construir uma cidade, também tem força para ir mais além, desbravar terreno, procurar riquezas minerais, porque se a América espanhola era rica, esta também devia ser.

Organizam-se expedições de homens a cavalo, com bandeiras para descobrir o imenso Brasil interior, chamaram-lhe Bandeirantes. 

As suas força, coragem e iniciativa tiveram frutos e finalmente descobriram o ouro tão desejado. Se o descobriram era seu não do Império, nem das cidades administrativas que o gastavam. Sucederam-se convulsões sociais, histórias de roubos e assaltos, mortes e assassinatos como na descoberta do far west na vizinha América do Norte.
A primeira função dos jesuítas e outras ordens religiosas era evangelizar os indígenas, fixa-los a um lugar e prestar apoio moral à população residente. Neste sentido, construíram-se Igrejas e Mosteiros dedicados aos santos da religião católica.
Algumas Igrejas ainda sobreviveram numa penumbra eterna, asfixiadas pelos arranha-céus mesmo ao lado. 


É difícil encontrar a Igreja!
Os arranha-céus são incontornáveis porque nos “abraçam” persistentemente. Têm uma vantagem: subi a um deles, o Martinelli, e observei o imenso mar de cimento paulista em todos os pontos cardiais…
Prédios vistos de uma grade de pedra
Visitei a Catedral Metropolitana, construída entre 1912 e 1954. É imponente, com espaço exterior a enquadra-la, mas os pedintes ocuparam-no apelando à caridade e não só. O estilo é uma fusão de neogótico e renascentista, mas o detalhe que me chamou a atenção foram as colunas delicadamente talhadas com motivos da fauna e flora brasileiros.
Catedral Metropolitana

Pormenor do capitel da coluna
O Mosteiro de S. Bento, também do séc. XX, tem pinturas lindíssimas desenvolvidas pelos monges beneditinos caracterizadas por uma perspectiva comprimida e por cores vivas. Os vitrais coam a luz e criam atmosfera. O órgão quando toca também ajuda. Mas o exterior novamente para esquecer: pedintes, sem abrigo, “religiosos” a apregoar a espiritualidade.

Mosteiro de S. Bento e carrinha de propaganda religiosa
Por engano um motorista de táxi (conhece a rua, não o monumento) levou-nos ao Mosteiro da Luz, pensando que era S.Bento. Este é mais pequeno, singelo com envolvência agradável ajardinada e decorada com cópias das estátuas do Aleijadinho de Congonhas. Num anexo está situado o Museu de Arte Sacra.
Museu de Arte Sacra
Teto interior do Mosteiro da Luz

Réplica do profeta do Aleijadinho
Mas como se divertem os paulistas, uma vez que a praia fica longe?
No Parque Ibirapurena, a mancha verde de S. Paulo, ao ar livre com múltiplas atrações, mas mais, mais dentro de portas.
Tem uma variedade enorme de restaurantes para todos os gostos, de todas as nacionalidades, de todos os preços ou não fosse uma cidade multicultural. Os paulistas gostam de bons ambientes, de comer bem e podem pagar ainda melhor.

Assistem e esgotam os mais variados concertos, de todos os estilos, em todos os ambientes desde o intimista até ao megaconcerto.
A “Folha Paulista” relata semanalmente todos os eventos, incluindo os inúmeros teatros e bailados em cena.
Visitam exposições de arte no MASP – Museu de Arte de S. Paulo com um acervo notável de pinturas de mestres europeus e dos primeiros modernistas brasileiros. 

Interior do MASP com exposição de Ticiano
Situa-se na cosmopolita Av. Paulista coexistindo com grandes edifícios de escritórios. Tive o privilégio de passear nela sem carros porque devido à inauguração de uma ciclovia.

Av. Paulista com bicicletas e pessoas
Mas o sossego não durou muito. Os carros furiosos ocuparam o seu espaço com orgulho motorizado com carros alegóricos à mistura!
A invasão dos motores
Nesta mesma Avenida existem vários centros culturais, provavelmente visitados na hora do almoço e o Parque Trianon para respirar e comer uma sanduiche apressada. Também lá se encontra a Livraria Cultura, moderna, linda, estava cheia de leitores e compradores, paulistas que gostam de ler.


Livraria Cultura
O corpo também precisa de alimento. O mercado é como um cartão de visita de uma cidade, sobretudo esta com fama gastronómica multicultural. O mercado como edifício é interessante e aposto que estes vitrais, situados  no interior, estão demasiado altos para serem observados com frequência.

Vitais lindíssimos

                                          Tradições portuguesas


                               Frutas diferentes e excesso de calorias...

Para terminar o dia impunha-se um saboroso jantar de Bóbó de polvo... imagine-se! A aposta foi ganha, as pretinhas da entrada aconselharam... 



...S.Paulo tem muita oferta cultural, a próxima mensagem leva-nos à Pinacoteca e não só!




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