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domingo, 23 de outubro de 2016

MINAS GERAIS - Parque Inhotim


EXPOSIÇÃO DE ARTE NA NATUREZA

A caminho de Inhotim a espetativa era grande. A minha pesquisa informava-me que iria encontrar natureza bem preservada e com intervenção paisagística e obras de arte numa conjugação harmoniosa. A transformação humana pode ser algo de coerente com a criatividade da arte e a beleza livre da natureza. 
Porém, antes de chegar, a natureza começava a surpreender-me... as formigas ao longo do tempo construíram os seus espantosos palácios, muitos, cor de terra, grandes, só vendo!

Uma original estátua indígena, induz-nos para os primeiros habitantes desta terra, mas "carrega" uma vaca mineira. A coexistência entre civilizações pode ser pacífica.

O local, no Estado de Minas Gerais, foi uma fazenda pertencente a uma empresa de minério que, no século XIX, atuava na região e cujo responsável era um inglês, de nome Timothy - o "Senhor Tim", que acabou virando na linguagem local, "Nhô Tim" ou "Inhô Tim" e finalmente Inhotim. 
Em 2004 o empresário Bernardo Paz comprou a propriedade para albergar a sua valiosa coleção de arte moderna (1970 até à atualidade) que incluía trabalhos a sua mulher Adriana Varejão, de Portinari, de DiCavalcanti entre outros artistas de várias nacionalidades.

Em 2006, o Parque foi aberto ao público em dias regulares, sem necessidade de marcação prévia. As exposições são sempre renovadas e galerias são anualmente inauguradas. É um espaço em constante movimento, dinâmica que o torna captador de visitas e impulsionador de arte.
Pode-se ir lá para pensar, olhar, ouvir, enfim potencializar os nossos sentidos e  "armazenar" tranquilidade para relativizar os acontecimentos, porque isto é que vale!

Tudo foi pensado ao pormenor para que a convivência fosse absolutamente pacífica e harmoniosa e a comunhão com o verde tornou as esculturas, casas e carros de uma beleza que se não estivessem ali não tinham.
O traço dos caminhos leva-nos a recantos sempre diferentes, como se estivéssemos a ver um filme de suspense para reter a nossa atenção permanentemente.
A distribuição do espaço teve em consideração a interação terra-água. As plantas endémicas foram preservadas e inspiraram as plantações do homem. O acaso só existe quando a natureza quer.
As centenas  de obras expostas são ecléticas, para todos os gostos, mas não deixam ninguém indiferente. Parece que o espaço é criado para abrigar a obra ou é a obra que cria o espaço? Não sei desvendar o mistério deste ovo, mas também não importa.

De forma geral, os edifícios impressionaram-me mais que o conteúdo.

A leitura de cada obra devia ter um tempo para a compreender, para estar com ela num diálogo com o autor para que a sua mensagem fosse recebida tal como ele merecia. Mas não, o tempo foi curto, o parque é grande e pairava a sensação que não podíamos deixar de ver outras manifestações de arte. As visitas turísticas são assim…
Os materiais são diversos: vidros criam leveza e transparência, espelhos refletem tudo o que se aproxima criando imagens que nos surpreendem, barro da olaria que dá corpo a formas onde até podemos construir o nosso nome …
Os 98 bancos obviamente de madeira foram esculpidos nos troncos de árvores por Hugo França. O primeiro banco foi colocado no jardim em 1990, sob a sombra da árvore tamboril, um dos símbolos do parque. São feitos de troncos e raízes de pequi-vinagreiro, árvore comum na mata atlântica, reabilitada de uma forma surpreendente bela.
E…as orquídeas têm lugar permanente em muitas árvores. Acho que os visitantes acham que são a própria árvore de tão envolvidas estarem. Mas elas são únicas, verdadeiras, com cores e formas que ultrapassam a nossa capacidade de imaginação. As orquídeas "vandas" movimentam-se livremente e têm lugar privilegiado a olhar um dos lagos.




É preciso concertação para ouvir os pássaros. Os carros que levam e trazem os visitantes cansados e apressados, as pessoas a falarem abafam a sua música. Mas eles gostam de viver ali, onde tudo foi pensado numa interação perfeita entre homem e natureza.
Até os caixotes do lixo foram pensados e construídos com materiais naturais, como que a motivar os visitantes para o respeito pela beleza.
Várias plantas alastram como tapetes entre as árvores. Aqui atingiriam valores significativos em vasos comprados nas floricultoras. No parque vivem descansadas, sem stresses, adaptadas integralmente à luz, água e solo e reproduzem-se livremente como que a agradecer a hospitalidade.

O Pau Brasil que deu origem ao nome do país tinha que marcar presença. Conheci finalmente a planta típica da mata atlântica, cuja exploração intensa caracterizou um período económico da história do Brasil ainda ligado a Portugal. Até meados de 1800, a extração da madeira destinava-se ao mercado de corante denominado  “brasileína”.


Os lugares perfeitos podem-se construir e reinventar e viver harmoniosamente com a obra do homem. O Parque Inhotim é um exemplo concludente e definitivamente merece uma visita. 

... vou continuar admirando a natureza... As Cataratas do Iguaçu são uma das maravilhas deste planeta!



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