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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

MINAS GERAIS - Ouro Preto




Milhares de pessoas de Portugal e regiões do Brasil abandonaram as suas casas e fazendas e foram à procura da riqueza neste “El dourado” brasileiro.
Vista Geral de Ouro Preto
Este fluxo emigratório do reino acabará por impor o português como língua nacional em substituição do tupi indígena.
O comércio de escravos adquiriu proporções até então nunca vistas.

Os indígenas não eram trabalhadores suficientemente eficientes para o trabalho árduo da exploração mineira.
Vieram barcos de África transportando negros como sardinha em lata, para rentabilizar. Cada escravo tinha, em média, oito anos de vida ativa, depois o seu desempenho decrescia e havia necessidade de o substituir. Alguns eram comprados para reprodução devido à sua raça e genética.
No Brasil ainda havia de durar muito tempo este flagelo, devido à sua importância económica nos ciclos agrícolas que seguiram.
A assinatura da abolição da escravatura, já na época da independência, fez cair o Império e instaurar a República.

Nas proximidades das zonas auríferas foram aparecendo povoados de apoio à exploração do minério.
Construíram-se casas, para substituir as “palhotas” improvisadas. Apareceram os "arraiais" e depois as povoações. 
A que hoje se chama Ouro Preto, denominava-se Vila Rica, sabe-se lá porquê!
Trocava-se ouro por comida, tal era a carência de alimentos, porque ninguém cultivava apenas explorava o minério.
Perdiam-se loucamente fortunas no jogo. Quem conseguia fugia ao controle policial. Construíram-se prisões para prender os infractores e Portugal teve necessidade de criar uma máquina administrativa para gerir e defender esta nova realidade.
Surgiu a figura do intendente que "superintendia" os impostos, sobretudo os impostos... com a ajuda do exército e da polícia e até de salteadores comprados que mudavam de lado consoante as conveniências.
Prefeitura de Ouro Preto
Ao rei D. João V, era devido “o quinto”, o imposto de 20% sobre o ouro encontrado e que tornou possíveis em Portugal, obras como o Convento de Mafra, o Aqueduto das Águas Livres e adquirir coches lindos que ainda hoje existem e que mostraram ao Papa a opulência de Portugal. 
O transporte do ouro para o Rio era feito pela Estrada Real devidamente escoltada e ainda existente.

Era preciso agradecer aos céus tanta riqueza, por isso foram edificadas Igrejas, várias em cada localidade, com altares dourados a santos protectores de acordo com as diversas devoções.
Hoje apreciamos os seus dourados, adornados com muitos anjos, como no barroco português.
Anjos barrocos
Os escravos também precisavam de Igreja, para rezar aos seus santos negros. Transportavam o pó de ouro nas cabeleiras e depositavam-no na pia de água benta. Estas Igrejas não eram tão douradas, mas belas na sua simplicidade de cores com desenhos de pássaros e flores da natureza. Foi pena não conseguir fotos ilustrativas do interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário a igreja dos escravos aqui e noutros locais.Retenho a expressão de um Cristo crucificado, da autoria do Aleijadinho, que apesar do sofrimento tinha um ar sereno de quem sofre por amor. Foi o primeiro crucifico que me encantou.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário
As casas coloridas, com janelas desenhadas e varandas a lembrar o rendilhado do ferro português, não deixam ninguém indiferente. Quantas histórias presenciaram, lendas, romances, dramas e glórias!

Esta época é riquíssima em acontecimentos mirabolantes que serviram de inspiração a muitos autores que ainda hoje também encontram com letras um filão rentável.
As ruas ainda têm empedrado da era do ouro. São íngremes mas não são difíceis devido à beleza envolvente. Estão bem preservadas e transportam-nos facilmente ao mundo do Tiradentes e da Inconfidência mineira que aconteceu aqui.

Rua íngreme de Ouro Preto
O Tiradentes, herói nacional porque foi o único que assumiu a Inconfidência contra o reino de Portugal, e pagou com morte violenta a sua coragem, sente-se por todo o lado. Numa estátua em frente da antiga casa do governador de Portugal, para o desafiar, na casa onde viveu e nas casas onde habitou a sua família. Acho que ele estará a pensar que valeu a pena morrer por uma pátria que sabe reconhecer o seu heroísmo.
Este acontecimento da Inconfidência que antecedeu "o grito do Ipiranga", e que tornava independente a colónia de Portugal, está hoje muito bem encenado numa série da TV Globo "Liberdade Liberdade", a decorrer atuamente.

Estátua do Tiradentes em Ouro Preto

A exploração do ouro deslocou definitivamente o centro económico e o aparelho político-administrativo da colónia para a região sul-sudeste e levou à mudança da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, cidade de mais fácil acesso às regiões mineradoras e para o transporte marítimo para Portugal.
O ouro do aluvião não durou para sempre, esgotou-se em meio século. Ainda tentaram explorar as minas, mas era um processo mais penoso. Exigia tecnologia avançada e investimentos avultados.
Portugal ainda estava a recompor-se do terramoto de 1755 e o Marquês de Pombal procedia a reformas inspiradas nas suas viagens europeias.

Pouso do Chico Rey
A coroa do Chico Rey
Tenho que recordar aqui a estalagem onde fiquei hospedada em Ouro Preto. Chama-se "Chico Rey", rei africano, escravo no Brasil, tornado novamente rei pelos escravos brasileiros que alforrou. O ouro que conseguiu foi sendo "roubado", comprou uma mina que se supunha esgotada, mas que ainda lhe deu riqueza. Mas para além de palacete antigo com nome original, preservado, bem decorado, foi e é a casa de poetas, atores, cantores e pintores. Atmosfera artística que me contagiou ou não dormisse no quarto de Vinicius de Morais ou também de Sónia Braga ou de Fernanda Montenegro...

... Minas Gerais ainda não está esgotada, Congonhas tem muito que se ver, mais que falar...

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