A Zona Centro já foi o centro da vida social e política do Rio.
É passado, história, atualidade em cimento e também algum abandono em 2015. Bonitas Igrejas e estátuas coexistem com arranha-céus e casas coloniais abandonadas e em ruínas. Novamente é preciso o olhar seletivo. Não se percebe unidade, é uma manta com retalhos lindíssimos e outros corroídos pelo tempo.
Os Arcos da Lapa recebem-nos com a sua alvura num dos bairros mais boémios do Rio. Construídos no período colonial por escravos africanos, foi um dos fatores de progresso porque canalizou a água necessária à população em crescimento. Bem conservados, recortam a paisagem e ajeitam-se para a fotografia.
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Arcos da Lapa |
A Lapa é uma zona de noite boémia, palco de muitas canções artistas e episódios...
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Pintura mural com os artistas boémios da Lapa |
Avista-se a Catedral Metropolitana, moderna, grande, cónica parecida com monumento maia. Reflete-se no prédio em frente, para que ele desapareça e a catedral fique. Menos mal, porque acho que os templos precisam do sagrado dado pelo espaço envolvente.
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Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro |
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Catedral refletida para que fique |
Seleron era um boémio que vivia na Lapa e adorava o Rio. As escadas do seu bairro foram a sua obra de arte em azulejos de todos os países do mundo que comprou e foi recebendo dos turistas. Agora cada um que as visita, procura a sua terra. De Portugal vi Sintra, Nazaré, Fátima, Lisboa...e haveria certamente mais. A conjugação de cores torna a sua herança única. Aproveitou também para deixar mensagens sociais, incluindo o futebol.
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Composição artística do Seleron |
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Mensagem do Seleron |
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Azulejo português de Sintra |
A Cinelândia deve este nome ao facto de ter sido uma praça com vários cinemas e teatros. Resta o Odéon, ativo para o cinema, a bonita calçada portuguesa e o imaginário dos encontros à tarde, para pôr notícias em dia ou para mostrar toilletes inspiradas em França, a capital da moda e do "chic" e de algumas palavras como "vitrine".
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Cinema Ódeon |
O Teatro Municipal inspirou-se na Ópera de Paris. Está lindíssimo depois de uma recuperação cuidada e cara. Pinturas, vitrais, estátuas, dourados, mármores do mais caro e belo que existia na altura da sua construção terminada em 1909. Tanta riqueza e beleza concentradas talvez sobressaíssem mais numa área maior.
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Teatro Municipal |
O Arco do Telles de 1757 é o único arco do tempo colonial que resistiu aos incêndios e à modernidade. Tem aspeto robusto e fazia parte de uma mansão de gente abastada. Tem apenas valor histórico, mas bela é esta pintura mural localizada ao lado e que ilustra as pessoas que o atravessavam frequentemente.
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Pintura mural perto do Arco do Telles |
Fica perto do Paço Imperial, cenário de cortesias monárquicas e de um evento importantíssimo: a assinatura da Lei Áurea que aboliu formal e tardiamente a escravatura. Mas quando o visitei prestava homenagem ao cinquentenário da vida artística de Maria Betânia, uma das rainhas da canção brasileira.
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Composição representando Maria Betânia |
Exposição lindíssima, sentida e singela com Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner constantemente citados e declamados pela própria. E Padre António Vieira escrito num cartaz no chão da rua, preso com umas pedras: ..."nos dias em que não fazemos apenas duramos."
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Homenagem a autores preferidos de Maria Betânia |
Tinha também as receitas da mãe D. Canô para quem quiser fazer e experimentar o que ela saboreou. E...imagine-se um manto soberbo feito de cascas de alhos.
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Manto feito de cascas de alhos |
Muita emoção. Acho que ainda ando à procura dos adjetivos, porque me impressionou fortemente. Mais uma surpresa para uma portuguesa!
A Rua do Ouvidor de Machado de Assis, das livrarias e tabacarias, das casas de moda copiadas de Paris, ainda lá está com algumas casas coloniais a precisarem de restauro, mas ainda dá para imaginar o "charme", o "chic", dos passeios ao fim da tarde da nobreza recém promovida e frequentadora da corte e outros que a queriam frequentar!
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Letreiro antigo de uma tabacaria da Rua do Ouvidor |
Os trabalhadores atuais ainda descem diariamente os morros para ganhar a vida como podem.
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Trabalhadores ganhando a vida |
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Casas coloniais |
A Confeitaria Colombo é uma instituição. Bem conservada exibe os seus leques de bolacha centenários, os seus lindíssimos vitrais, dourados e mármores, acho que mantém a atmosfera dos encontros de intelectuais e da "nobreza" colonial. É constantemente incomodada por turistas como eu...
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Confeitaria Colombo |
A Igreja de Nossa Senhora da Candelária de 1775, é uma das mais antigas e bonitas do Rio. Situada no centro, movimentado e apressado merecia outro enquadramento para a sua beleza. Apesar do jardim situado à frente, pena virar central de "onibus" mesmo à porta...
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Igreja de Nossa Senhora da Candelária |
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo é imponente no seu barroco branco e dourado. Sediou cerimónias de sagração dos imperadores D.PedroI e D.PedroII e passou a ser a Capela Imperial após a independência do Brasil.
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Igreja de Nossa Senhora do Carmo |
A estátua equestre de D.PedroI, homenagem ao primeiro imperador, ao seu grito do Ipiranga "independência ou morte", elegante, movimentada como foi a sua vida, ladeada com os quatro rios principais do Brasil: Amazonas, Madeira, São Francisco e Paraná; os rios que tornaram fértil e rico todo o Império. Nas alegorias estão figurados indígenas e diversas espécies de animais, gárgulas douradas e outros motivos decorativos. Mas surpresa...fica situada no centro da Praça Tiradentes, o alferes português herói da Inconfidência, prelúdio da Independência.
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Estátua equestre de D.PedroI |
Outra surpresa foi o Parque Lage, com a floresta e o Morro do Corcovado ao fundo. Hoje Escola de Artes Visuais, o palácio passou por vários proprietários e utilidades desde 1811. A família Lage foi a detentora do edifício por mais tempo promovendo festas magníficas nos seus jardins bem cuidados. Sentada a saborear um bom café, deu para sentir a atmosfera artística. À saída estava um cartaz dizendo "Um saco cheio de arte". Realmente transportei com agrado este saco.
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Parque Lage |
Como portuguesa, era obrigatória a visita ao Real Gabinete Português de Leitura. À entrada vemos um maltratado busto de Camões, num largo degradado e diria mal frequentado. Esquecendo a entrada, o interior não deixa ninguém indiferente. A clarabóia é deslumbrante, assim como as pinturas e mobiliário. Possui um significativo e valioso acervo de livros, nomeadamente uma edição de "Os Lusíadas" de 1572. Construído em estilo neomanuelino, foi inaugurado pela Princesa Isabel em 1887 e é a associação mais antiga fundada por portugueses.
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Real Gabinete Português de Leitura |
Para terminar esta já longa digressão pelo centro, o Museu de Arte do Rio (M.A.R.) é um imóvel artístico em si, sendo inaugurado recentemente, vemos a arte nas mais diversas vertentes: pinturas de vários estilos e épocas, espólios de escritores, esculturas...tudo exposto de forma original e com critério pedagógico. Merecia várias páginas de descrição e, claro outra visita mais prolongada sem a pressão turística.
Aqui ficam algumas fotos mais significativas; o mundo dividido entre espanhóis e portugueses e o rei sol francês que tentou ocupar o Império.
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O mundo dividido ao meio... |
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O Rei Sol à procura de outro império |
Deixo para o fim a entrada no Museu: a representação de uma favela com tijolos pintados e montados pelos seus habitantes. Muito sentimento, muito amor-ódio, muita cor para chamar a atenção para uma realidade que muitos cariocas querem ignorar, talvez porque não consigam solucionar.
... e ainda há mais Rio de Janeiro!
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