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terça-feira, 11 de outubro de 2016

RIO DE JANEIRO - Zona centro



A Zona Centro já foi o centro da vida social e política do Rio.
É passado, história, atualidade em cimento e também algum abandono em 2015. Bonitas Igrejas e estátuas coexistem com arranha-céus e casas coloniais abandonadas e em ruínas. Novamente é preciso o olhar seletivo. Não se percebe unidade, é uma manta com retalhos lindíssimos e outros corroídos pelo tempo. 
Os Arcos da Lapa recebem-nos com a sua alvura num dos bairros mais boémios do Rio. Construídos no período colonial por escravos africanos, foi um dos fatores de progresso porque canalizou a água necessária à população em crescimento. Bem conservados, recortam a paisagem e ajeitam-se para a fotografia. 
Arcos da Lapa
A Lapa é uma zona de noite boémia, palco de muitas canções artistas e episódios...
Pintura mural com os artistas boémios da Lapa
Avista-se a Catedral Metropolitana, moderna, grande, cónica parecida com monumento maia. Reflete-se no prédio em frente, para que ele desapareça e a catedral fique. Menos mal, porque acho que os templos precisam do sagrado dado pelo espaço envolvente.
Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro
Catedral refletida para que fique
Seleron era um boémio que vivia na Lapa e adorava o Rio. As escadas do seu bairro foram a sua obra de arte em azulejos de todos os países do mundo que comprou e foi recebendo dos turistas. Agora cada um que as visita, procura a sua terra. De Portugal vi Sintra, Nazaré, Fátima, Lisboa...e haveria certamente mais. A conjugação de cores torna a sua herança única. Aproveitou também para deixar mensagens sociais, incluindo o futebol.
Composição artística do Seleron

Mensagem do Seleron

Azulejo português de Sintra
A Cinelândia deve este nome ao facto de ter sido uma praça com vários cinemas e teatros. Resta o Odéon, ativo para o cinema, a bonita calçada portuguesa e o imaginário dos encontros à tarde, para pôr notícias em dia ou para mostrar toilletes inspiradas em França, a capital da moda e do "chic" e de algumas palavras como "vitrine".
Cinema Ódeon
O Teatro Municipal inspirou-se na Ópera de Paris. Está lindíssimo depois de uma recuperação cuidada e cara. Pinturas, vitrais, estátuas, dourados, mármores do mais caro e belo que existia na altura da sua construção terminada em 1909. Tanta riqueza e beleza concentradas talvez sobressaíssem mais numa área maior. 
Teatro Municipal
 
O Arco do Telles de 1757 é o único arco do tempo colonial que resistiu aos incêndios e à modernidade. Tem aspeto robusto e fazia parte de uma mansão de gente abastada. Tem apenas valor histórico, mas bela é esta pintura mural localizada ao lado e que ilustra as pessoas que o atravessavam frequentemente.
Pintura mural perto do Arco do Telles
Fica perto do Paço Imperial, cenário de cortesias monárquicas e de um evento importantíssimo: a assinatura da Lei Áurea que aboliu formal e tardiamente a escravatura. Mas quando o visitei prestava homenagem ao cinquentenário da vida artística de Maria Betânia, uma das rainhas da canção brasileira.
Composição representando Maria Betânia
Exposição lindíssima, sentida e singela com Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner constantemente citados e declamados pela própria. E Padre António Vieira escrito num cartaz no chão da rua, preso com umas pedras: ..."nos dias em que não fazemos apenas duramos."
Homenagem a autores preferidos de Maria Betânia
Tinha também as receitas da mãe D. Canô para quem quiser fazer e experimentar o que ela saboreou. E...imagine-se um manto soberbo feito de cascas de alhos.
Manto feito de cascas de alhos

Muita emoção. Acho que ainda ando à procura dos adjetivos, porque me impressionou fortemente. Mais uma surpresa para uma portuguesa! 

A Rua do Ouvidor de Machado de Assis, das livrarias e tabacarias, das casas de moda copiadas de Paris, ainda lá está com algumas casas coloniais a precisarem de restauro, mas ainda dá para imaginar o "charme", o "chic", dos passeios ao fim da tarde da nobreza recém promovida e frequentadora da corte e outros que a queriam frequentar! 
Letreiro antigo de uma tabacaria da Rua do Ouvidor
Os trabalhadores atuais ainda descem diariamente os morros para ganhar a vida como podem.
Trabalhadores ganhando a vida

Casas coloniais

A Confeitaria Colombo é uma instituição. Bem conservada exibe os seus leques de bolacha centenários, os seus lindíssimos vitrais, dourados e mármores, acho que mantém a atmosfera dos encontros de intelectuais e da "nobreza" colonial. É constantemente incomodada por turistas como eu... 
Confeitaria Colombo


A Igreja de Nossa Senhora da Candelária de 1775, é uma das mais antigas e bonitas do Rio. Situada no centro, movimentado e apressado merecia outro enquadramento para a sua beleza. Apesar do jardim situado à frente, pena virar central de "onibus" mesmo à porta...
Igreja de Nossa Senhora da Candelária
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo é imponente no seu barroco branco e dourado. Sediou cerimónias de sagração dos imperadores D.PedroI e D.PedroII e passou a ser a Capela Imperial após a independência do Brasil.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo
estátua equestre de D.PedroI, homenagem ao primeiro imperador, ao seu grito do Ipiranga "independência ou morte", elegante, movimentada como foi a sua vida, ladeada com os quatro rios principais do Brasil: Amazonas, Madeira, São Francisco e Paraná; os rios que tornaram fértil e rico todo o Império. Nas alegorias estão figurados indígenas e diversas espécies de animais, gárgulas douradas e outros motivos decorativos. Mas surpresa...fica situada no centro da Praça Tiradentes, o alferes português herói da Inconfidência, prelúdio da Independência.
Estátua equestre de D.PedroI
Outra surpresa foi o Parque Lage, com a floresta e o Morro do Corcovado ao fundo. Hoje Escola de Artes Visuais, o palácio passou por vários proprietários e utilidades desde 1811. A família Lage foi a detentora do edifício por mais tempo promovendo festas magníficas nos seus jardins bem cuidados. Sentada a saborear um bom café, deu para sentir a atmosfera artística. À saída estava um cartaz dizendo "Um saco cheio de arte". Realmente transportei com agrado este saco.
Parque Lage

Como portuguesa, era obrigatória a visita ao Real Gabinete Português de Leitura. À entrada vemos um maltratado busto de Camões, num largo degradado e diria mal frequentado. Esquecendo a entrada, o interior não deixa ninguém indiferente. A clarabóia é deslumbrante, assim como as pinturas e mobiliário. Possui um significativo e valioso acervo de livros, nomeadamente uma edição de "Os Lusíadas" de 1572. Construído em estilo neomanuelino, foi inaugurado pela Princesa Isabel em 1887 e é a associação mais antiga fundada por portugueses.
Real Gabinete Português de Leitura


Para terminar esta já longa digressão pelo centro, o Museu de Arte do Rio (M.A.R.) é um imóvel artístico em si, sendo inaugurado recentemente, vemos a arte nas mais diversas vertentes: pinturas de vários estilos e épocas, espólios de escritores, esculturas...tudo exposto de forma original e com critério pedagógico. Merecia várias páginas de descrição e, claro outra visita mais prolongada sem a pressão turística.
Aqui ficam algumas fotos mais significativas; o mundo dividido entre espanhóis e portugueses e o rei sol francês que tentou ocupar o Império.
O mundo dividido ao meio...

O Rei Sol à procura de outro império
Deixo para o fim a entrada no Museu: a representação de uma favela com tijolos pintados e montados pelos seus habitantes. Muito sentimento, muito amor-ódio, muita cor para chamar a atenção para uma realidade que muitos cariocas querem ignorar, talvez porque não consigam solucionar. 




... e ainda há mais Rio de Janeiro!


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