Quando visitei Congonhas estava a anoitecer.
O céu despedia-se do sol com um sortido de tons de laranja que enquadravam a
visão do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos com uma beleza mágica.
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos ao anoitecer |
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Era o meu esperado encontro com António Francisco
Lisboa, mais conhecido por "Aleijadinho", nome que despertou a minha
atenção mesmo antes de conhecer o Brasil.
Congonhas dista 70 Km de Belo Horizonte, o solo é rico
em minério de ferro, sendo no passado também expressiva a mineração em busca do
ouro, portanto mais uma localidade mineira (afinal estamos em Minas Gerais),
testemunha de homens enriquecidos pelo(s) minério(s).
Em 1755 em plena era aurífera foi inaugurado o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, por um português nortenho devoto e grato pela riqueza que lhe era possibilitada.Começou por uma singela capela e terminou com a ajuda de amigos num Santuário que hoje nos presenteia com o mais significativo acervo artístico do Aleijadinho.
Data da
fundação do Santuário (1755) |
António Francisco Lisboa era filho de um respeitado
mestre de obras e arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e da sua escrava
africana Isabel. Nascido escravo foi alforrado pelo pai no dia do seu batismo.
A sua obra artística é extensa na região mineira,
maioritariamente ligada a figuras sacras, encomendadas por devotos recém
enriquecidos.
Depois de 1777 o artista começou a exibir sinais de
uma misteriosa doença degenerativa, que lhe valeu o apelido de
"Aleijadinho". O seu corpo foi-se deformando progressivamente, o que
lhe causava muito sofrimento. Teria perdido todos os dedos dos pés, obrigando-o
a andar de joelhos e na fase avançada da doença precisava de ser carregado
quando se deslocava para trabalhar. Ficou também sem os dedos das suas
preciosas mãos excepto o polegar e o indicador; para esculpir e pintar, os instrumentos
que usava eram amarrados aos cotos.
No adro do Santuário esculpiu em pedra sabão as
famosas imagens dos doze profetas em tamanho real. Quando as vi recortavam-se
no céu de um azul intenso, fiquei impressionada.
Não identifiquei nenhum dos profetas, não conheço o
Antigo Testamento, mas fiquei curiosa.
Depois já de noite vi iluminadas uma a uma as seis
capelas do Jardim dos Passos.
Santuário com as capelas do Jardim dos Passos |
As faces das personagens e a emoção que viviam no
momento, dão-lhes voz, tornam-nas vivas e na minha opinião projetam o
sofrimento do seu autor.
A mão deformada da primeira foto é um exemplo.
As outras imagens dos passos da paixão de Cristo falam
por si.
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Em 1985, todo este conjunto artístico passou a ser
considerado pela UNESCO, Património Cultural da Humanidade, sendo uma das
maiores realizações do barroco brasileiro.
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