Pesquisar

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

BOSTON The Spirit of America

Em Boston o caminho da liberdade cruza-se com a modernidade, com o progresso, e também com a inclusão porque os fundadores da cidade e dos EUA como nação, foram excluídos do seu país.
A cultura dos direitos humanos é sagrada, iniciou-se na Declaração de Independência e, no século XIX durante a Guerra Civil, Boston foi o maior centro do movimento abolicionista.
Aqui existe uma forma de estar na vida, diferente, orgulhosa, sentem-se “The hub of the universe”, o centro do universo, os seus visitantes escolhem a cidade com critério, não por roteiro turístico à venda. O que esperam encontrar é tradição, história, conhecimento e as expetativas não são defraudadas.
Personagem do sec.XVIII atravessando a rua
Guia turistica





















Os marcos históricos do “freedom trail” convivem com os grandes armazéns do consumo, os transeuntes apressados deparam-se com personagens do século XVIII, os arranha céus espelham “Old Church”.
Massachusetts State House
Trinity Church refletida
Para aqui vieram pessoas com esperança, com vontade de vencer e para estudar. A tradição académica dos século XVIII em Harvard, convive com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), um dos maiores centros de investigação e inovação do mundo.
Massachusetts Institute of Technology
Encontramos restaurantes requintados, a preços razoáveis, preocupados com a sustentabilidade e a saúde, o parágrafo justifica-se porque estamos nos EUA!
Restaurante tradicional

Declaração de princípios numa casa de burgers
Aparecem muitas livrarias para vender e bibliotecas para consultar, afinal é uma cidade com várias universidades, mas muitas pessoas lêem no papel, acho que há uma coexistência equilibrada com as novas tecnologias, no berço dos computadores.
A oferta cultural é extensa, intensa, de qualidade. Musicas nos vários estilos têm lotações esgotadas. Os museus são visitados, com artistas e mecenas americanos, acho que existem naturalmente hábitos culturais.

Um pintor inspirou-se no Rio Charles que embeleza Boston.
Pintor do Rio Charles
O Jardim Público é um parque pulmão com personalidade. Estes patos são o seu icon, mas todo o conjunto é belo.
Patos a atravessar a rua
Também há contradições, interrogações sem resposta: o nível de vida é alto, mas também encontramos veteranos na rua, é uma cidade inclusiva, multicultural, mas na maratona onde todos correram em 2013, houve um atentado.
Veterano da guerra da Koreia
Testemunhos lamentando as vitimas da maratona de 2013
Viver em Boston é uma forma de ser americano, com pronúncia própria, realmente. Afinal o Estado de Massachusetts é “The Spirit of America”.
Inscrição na matricula do carro do Estado de Massachusetts

BOSTON Tea Party

Em 1630, a Baía de Massachusetts na América do Norte, viu chegar um grupo de puritanos ingleses. Pensaram que ali poderiam começar uma nova vida, defendidos pelas milhas do Atlântico das perseguições religiosas de que eram alvo na Inglaterra de Carlos I.
Réplica do Mayflower

Fundaram uma cidade chamada Trimountaine. Sentiam-se livres para o culto e costumes, trabalharam duramente e amaram para sempre a terra que os acolheu. O novo Mundo tornou-se nos tempos seguintes a tábua de salvação para a vida de muitos ingleses que consideram que poderiam aqui estabelecer-se, começar do nada para ter tudo, liberdade religiosa, sucesso nos seus negócios construídos a pulso e educação!

A primeira escola pública da América foi fundada em 1635 e no ano seguinte aparecia uma universidade em Cambridge, denominada Harvard como o seu mecenas.
Universidade de Harvard
Torre da Universidade de Harvard


Veio um grande grupo duma cidade inglesa chamada Boston e este nome viria a perpetuara-se até hoje. Continuaram súbditos de sua majestade, mas com a sua cultura rigorosamente moralista e rígida.

O seu sucesso económico e financeiro contribuía significativamente para o aumento da receita em impostos que o Império Britânico gostosamente aceitava e aumentava. Ainda sentiam as suas raízes na Europa, mas viviam longe do centro decisório e não tinham qualquer representante no Parlamento para defender os seus interesses: “Impostos sem representação é tirania”, diziam.

Com a ajuda da imprensa escrita, Benjamim Franklin e Samuel Adams começavam a formar os primeiros focos de sentimento rebelde nos colonos americanos. Viajaram para a Europa para expor as suas ideias, para se inspirar na França e, estava lançado o rastilho revolucionário. Estávamos já no século XVIII.

A água da chávena transbordou quando os ingleses decidiram baixar todos impostos menos um: o do chá tão precioso que a rainha Catarina de Bragança, esposa de Carlos II tinha introduzido nos seus hábitos às 5 da tarde. Ao amanhecer de 19 de dezembro de 1773, os colonos subiram a bordo dos barcos ingleses e deitaram ao mar todo o carregamento do chá britânico. Este protesto ficou ironicamente conhecido como Boston Tea Party.


Museu Tea Party
A luta revolucionária iria continuar nos anos seguintes até à assinatura da Declaração de Independência do reino britânico em 4 de Julho de 1776, brindada com vinho Madeira tão ao gosto de Thomas Jefferson.

Boston tem muito orgulho na sua história, até porque é um elemento diferenciador da maioria das cidades dos Estados Unidos. É uma cidade para andar a pé por um caminho que nos conduz ao passado, o freedom trail, caminho da liberdade, seguindo o símbolo da imagem retirada da internet.

sábado, 26 de novembro de 2016

ROMA - Fontes

Os romanos sempre tiveram o culto da água.
Neptuno, o seu deus das águas e dos cavalos protegia-os contra tempestades e ninguém ousava enfrentá-lo. Representa-se grande, musculado, exibindo a sua força, às vezes montado em cavalos, liderando o seu exército de tritões, ninfas e sereias.
Neptuno na Fontana di Trevi
Para além da crença mitológica, os romanos eram excelentes engenheiros hidráulicos. Os aquedutos que projetaram, mantinham e defendiam, furaram a terra em muitos quilómetros, canalizando a água para termas e fontes e, quando o relevo deixava, apareciam artísticos arcos para sinalizar a sua presença. As termas fazem parte da civilização romana e nos territórios que conquistaram procuravam nascentes para perpetuar a cultura SPA (salus per aquam), com banhos para manter a saúde e simultâneamente para convivência social. As fontes de Roma são incontornáveis, de várias épocas, as mais imponentes renasceram pela mão de artistas e foram financiadas por mecenas. São os terminus dos aquedutos.

A Fontana di Trevi localiza-se no ponto terminal do Aqueduto da Água Virgem, mandado construir em 19 a.C. por Agripa, general próximo de Augusto. A que vemos hoje "afogada" em prédios que contornam as três vias (Trevi), teve intervenções de Nicola Salvi entre 1732 e 1751, contratadas pelo papa Clemente XII.
Fontana di Trevi
É palco permanente de uma visão cenográfica, com turistas a abastecer as águas com moedas, para a verem novamente e sempre. Neptuno aparece central e majestoso, num carro em forma de concha, com os seus cavalos marinhos liderados por tritões, rompendo as rochas e as águas, para mostrar a todos a sua força. 
À sua esquerda uma estátua representa a abundância e à da direita a saúde, temáticas associadas às águas. Por cima de cada estátua o autor leva-nos à origem do aqueduto com uma virgem mostrando a um legionário uma nascente de água e do outro lado Agripa aprovando os planos do aqueduto.
Saúde com a serpente
Abundância com o cesto cheio




















A Fontana da Água Feliz é o ponto terminal do aqueduto do mesmo nome. Agora, por ordem de Sisto V, é Moisés quem faz escorrer água das rochas.
Fontana da Água Feliz
Mas a surpresa foi encontrar na Via delle Quattro Fontane, exatamente quatro fontes uma em cada esquina. Diana e Juno descansam ao lado dos rios Tibre de Roma e Arno de Florença.
Diana
Juno












Fonte Rio Arno


Fonte Rio Tibre




















Existem muitas outras fontes romanas, criativas, obras de arte, que chegaram aos nossos dias com muitas histórias ouvidas, com lendas associadas, todas absolutamente necessárias à qualidade de vida dos romanos durante séculos. São uma homenagem romana à água como bem essencial. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ROMA - Basílica de Santa Maria de Trastevere

O local onde hoje se situa a Basílica de Santa Maria de Trastevere, deve ter sido um dos primeiros lugares de culto cristão em Roma.
O papa Calisto I (217-222) fundou neste local, por volta de 220, uma Igreja doméstica, residência privada romana onde se reuniam os primeiros cristãos antes da aceitação do culto por Constantino em 313.
Os habitantes deste bairro devem ter orgulho em saber que os primeiros cristãos se refugiavam nesta zona mesmo antes do seu culto ser aceite e também acreditam que este foi o primeiro templo dedicado a Maria.
Basílica de Santa Maria de Trastevere
Esta Basílica de estilo paleocristão/românico foi iniciada no século IV, completamente transformada no século XII, e neste longo percurso até à atualidade foram sendo acrescentados motivos, capelas, um chão magnificamente trabalhado em mármore e frescos representado cenas da vida de santos. 
Chão magnífico
Os romanos e os visitantes estão habituados a observar igrejas barrocas expositivas de riqueza, esta sugere-me uma riqueza simbólica de leitura clara.
No campanário românico do século XII, observa-se um nicho com significativo e surpreendente mosaico de Pietro Cavallini representando Maria amamentado o seu filho acompanhada por dez mulheres segurando lamparinas. Penso que esta figuração sagrada da Mãe de Jesus se aproxima de forma manifesta de todas as mães que alimentam os seus filhos.

Campanário
Maria amamentando
A entrada reporta inequivocamente aos primeiros protagonistas do culto cristão. As inscrições tumulares e a sua simbologia lembra-nos que aqui moraram pessoas que acreditavam na palavra de Cristo e que possivelmente lutaram num ambiente adverso. Aparece aqui a pomba com o ramo, representada séculos depois na Basílica S.João de Latrão...

Inscrições tumulares de cristãos primitivos


No interior, o meu primeiro olhar vai para as 22 colunas com capitéis jónicos e coríntios que separam a nave dos corredores. Possivelmente vieram das ruínas das Termas de Caracala ou de algum templo romano da proximidade, mas ficaram bem aqui.
Colunas em várias perspectivas com pormenor de cordeiro


A semicúpula representa novamente Maria, a ser coroada pelo seu filho. Esta é possivelmente a imagem mais olhada, é a consagração máxima da Mãe de todos.
Jesus coroando Maria
Estas imagens cativam-nos pela sua perfeição em mosaico, pelo drapeado, pelas expressões faciais, as cores, enfim os pormenores meticulosamente desenhados para formar este efeito surpreendente.
O baldaquino fica bem enquadrado nas semicupulas ilustrando em mosaico a vida de Maria. Cada uma merece uma atenção especial, afinal aqui a protagonista é ela.
Baldaquino
Este templo pareceu-me deste bairro, para este bairro e os seus habitantes identificam-se com ele, afinal têm uma festa “Noaltri” ou seja Festa de Nós outros.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

ROMA - Trastevere


Todas as cidades têm bairros boémios.
O Trastevere é um “rione” boémio de Roma cujo nome significa “além do Tibre” dada a sua localização na margem ocidental do rio Tibre que serpenteia a cidade.
Ponte a atravessar o Tibre para a outra margem
Digamos que a sua história nos remete para um pouco de segregação, quem sabe se devido ao limite geográfico do rio. Primeiro (735-509 a.C) a zona era ocupada por etruscos, hostis aos romanos que reinavam na outra margem. Implantada a república após 509 a.C., os romanos anexaram Trastevere por razões estratégicas. Um número crescente de pescadores que dependiam do rio para a sua subsistência passaram a morar no bairro. Imigrantes do oriente romano, sírios e judeus escolheram também o local para iniciar os seus negócios.
Só em 270-275 d.C. é que as muralhas de Aureliano integraram Trastevere como parte integrante da cidade.
Provavelmente nessa época, muitos cristãos encontraram aqui lugar seguro para as suas práticas religiosas nos titulus, locais de culto, propriedade de romanos que disponibilizavam a sua casa para esses fins, depois denominados padroeiros. Portanto, as primeiras Igrejas de Roma devem ter-se situado aqui: a Titulus Callixti (Basílica de Santa Maria in Trastevere) e a Titulus Cecilae ( Santa Cecilia in Trastevere).       
No fim do século V, Trastevere passou a ter novos habitantes, ricos que precisavam de espaço para construir os seus palácios em Roma, mas os antigos habitantes continuaram a dar vida ao “rione” e o que hoje observamos são as ruas estreitas, cheias de surpresas em cada curva, para andar a pé, sem destino, apenas a descobrir pormenores, sobretudo nos inúmeros restaurantes da zona abertos a noite inteira. Rafael também deve ter por ali andado e apaixonou-se perdidamente pela filha de um padeiro moradora no nº.20 da Via San Dorotea, “La Fornarina”.
Rua estreita com casas ocre
É um bairro para ver de dia, calmamente com condições atmosféricas que não distraiam a nossa atenção. No caminho para o centro de Roma, nos telhados de algumas casas descobrem-se testemunhos de estátuas de pessoas nobres que ficaram para sempre a observar o Tibre e a Isola Tiberina.



Isola Tiberina

De noite é para estar, saborear a excelente gastronomia italiana, não necessariamente a piza que é o menu habitual do turista apressado. Os chamativos restaurantes preferem expor os produtos, seguramente para dizer que ali se come bem.
Alcachofras e pasta a chamar...
Restaurante escolhido
Trastevere tem identidade, tradição mantida e transmitida de geração em geração e quando chegamos lá sente-se uma “cultura” à parte da imperial e renascentista Roma. A sua Festa ocorre desde 1535, entre 15 a 30 de Julho, e chama-se “Noaltri” ou seja Festa de Nós outros.

… A Basílica de Santa Maria de Trastevere está inserida nesta cultura…

terça-feira, 22 de novembro de 2016

ROMA - Praça João Paulo II

O Batistério do século V, octogonalsóbrio mas harmonioso, situa-se na Praça João Paulo II, exterior à Basílica, fazendo parte do conjunto de edifícios de Latrão.

No seu interior as paredes com frescos, reproduzem episódios da vida de Constantino, Imperador cristão que neste lugar mandou também erguer um batistério. No centro, uma piscina circular, onde segundo a tradição os primitivos cristãos eram batizados por imersão, está rodeada de colunas que tornam o conjunto harmonioso. As imagens seguintes do Batistério foram retiradas da internet.


Batistério S. João de Latrão
Cúpula do Batistério

Capela Sancta Santorum pode passar despercebida, ao lado da Basílica vizinha de S. João de Latrão. Aqui respira-se devoção e reflexão, porque há silêncio e recolhimento.

Exterior da Capela Sancta Santorum

Segundo a tradição, Helena, mãe de Constantino, terá trazido de Jerusalém no ano de 326 a escadaria que levava ao pretório de Pôncio Pilatos, governador romano na Palestina, e que foi santificada pelos passos de Jesus Cristo durante a paixão. 

O Papa Sisto V (1585-1590) localizou a Scala Santa na Capela Sancta Santorum para ser percorrida só de joelhos em sinal de respeito pelo sagrado. 

Scala Santa

Está emoldurada por frescos de Fenzoni, mas acho que não são observados. Este foi o primeiro templo em Roma onde senti que ali era só para rezar.

No cimo das escalas apresenta-se Cristo crucificado, que também sofreu. 


A Capela privativa de muitos papas também remete para a devoção, cria uma atmosfera onde ninguém ousa falar a não ser com Deus.

Interior da Capela Sancta Santorum


No centro desta Praça está um obelisco egípcio a apontar para o céu, direi que os obeliscos, estejam onde estiverem serão sempre estrangeiros fora do Egipto, são de uma cultura tão anterior e distinta... 
Obelisco egípcio