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terça-feira, 15 de novembro de 2016

RAFAEL EM ROMA


Os 37 anos de vida de Rafael foram tão intensos em obras geniais, que qualquer biografia não consegue abranger, descrever ou interpretar devidamente, todo o seu curto caminho de vida como artista.
Amou perdidamente e transmitiu a sua paixão e carinho em todas as imagens femininas, Madonas ou figuras mitológicas. No seu olhar transmitem sentimentos identificáveis. A sua musa inspiradora guardou-a para si, enquanto viveu, no seu quadro onde nos mostra a sua conceção de beleza.
"La Fornarina", Rafael, Palácio Barberini


Neste quadro, pintado em 1519, a sua amante ostenta no braço esquerdo uma bracelete onde se lê "Raphael Vrbinas".

Se repararmos bem, as figuras femininas em várias pinturas e frescos como por exemplo "A Galatea" têm parecença com Margherita Luti a "Fornarina" com quem manteve uma intensa relação amorosa em Roma.

Pintou palácios, igrejas, túmulos, altares, quadros, e em todas as obras movimentou pessoas com uma graciosidade, uma naturalidade, uma energia imbuídas dum sentimento como se estivessem num palco a representar, ao som de uma música inspiradora para cada momento.

A perfeição e expressividade das formas e a suavidade cromática glorificam as personagens com uma intensidade que é impossível deixar alguém indiferente.
Nasceu em 1483 em Urbino, então epicentro do renascimento.
Aprendeu os primeiros passos com o seu pai também pintor com boas relações no meio artístico. Mostrou-lhe as obras de Piero de La Francesca, que mais tarde iriam ter influência na sua formação. Aos seis anos vai estagiar no estúdio de Pietro Perugino onde aprendeu a técnica de fresco, com tonalidades claras, paisagens idílicas, realizando em 1504 a sua primeira obra “O Casamento da Virgem”.

Vai para Florença nesse mesmo ano e toma conhecimento com as as obras de Miguel Ângelo e Leonardo Da Vinci grandes mestres do renascimento, nomeadamente a expressividade humana do primeiro e a técnica claro-escuro e o sombreado levemente esbatido do segundo.
Iniciará uma nova tipologia de pintura religiosa denominada "Madonnas", que são senhoras com meninos ao colo com um sorriso suave e protetor que se tornam num êxito fulminante e num motivo de constante aperfeiçoamento.

                 A da esquerda é de 1503 e a da direita é de 1514. 


Chega a Roma em 1508 e tudo se passa muito depressa. O seu génio artístico começa a germinar, alcança rapidamente um patamar elevado. Bramante, seu familiar de Urbino, aconselha o papa Júlio II a contratar Rafael para a realização pictórica dos seus aposentos no Vaticano. Pretendia este pontífice glorificar o poder da Igreja Católica romana através da justificação do humanismo e do neoplatonismo.
Observamos estes admiráveis frescos, absolutamente imperdíveis, nos Museus do Vaticano nas quatro “Stanze” de Rafael aposentos decorados entre 1508 e 1524 , pelo pintor e seus discípulos:
Sala de Constantino com painéis ilustrando episódios de triunfo da fé cristã relacionados com o Imperador Constantino e a sua conversão à fé cristã.  
A Sala de Heliodoro ilustra cenas do Antigo Testamento entre as quais e da Expulsão de Heliodoro do Templo.
A Sala do Fogo no Burgo, foi decorada por Perugino e era usada por Leão X para suas refeições, foi depois redecorada por Rafael, ilustrando as aspirações políticas deste papa, através de cenas da vida de dois papas anteriores com o mesmo nome, Leão III  (A coroação de Carlos Magno e A justificação de Leão III) e Leão IV  (Fogo no Burgo e a Batalha de Óstia). No entanto, em todas as cenas o retrato do papa é o de Leão X, que lhe encomendou a obra.

Pormenor do fresco da Sala do Burgo representando Leão X
A Sala da Segnatura, “ Stanza della Segnatura” (1509) tem os mais famosos frescos de Rafael nos Museus do Vaticano: A Disputa do Santíssimo Sacramento, ilustrando a Verdade Sobrenatural, as Virtudes, expressando o Bem, o Parnaso com Apolo e as Musas representando a Beleza eEscola de Atenas, referindo a Verdade Racional. Este último fresco ilustra a continuidade histórica do pensamento filosófico de Platão e Aristóteles representados com destaque no centro do fresco.
A identificação das restantes figuras é hipotética e associada aos instrumentos com elas representados. 
 "Stanza della Segnatura"Escola de Atenas,Rafael,1509, Museus do Vaticano

Euclides (Bramante?) desenha uma figura geométrica perante um grupo de jovens
Heraclito (Miguel Ângelo?)

Rafael de chapéu escuro com o seu amigo Sodoma
Rafael resolve aparecer ao lado do seu amigo, assim como é sugerida a semelhança com alguns seus contemporâneos que segundo o seu conceito mereciam adquirir uma dupla identidade para a posteridade. Deixou um enigma para resolver, quem sabe para que melhor observassem a sua obra de arte.
Desenhou também desenhos para tapeçarias a serem executadas em Bruxelas, para a Capela Sistina. 
O banqueiro de Siena Agostino Chigi confia-lhe a realização dos frescos do palácio que estava a construir no Trastevere, arredores de Roma. Recorreu à ajuda dos seus discípulos, pois ainda estava a terminar os trabalhos no Vaticano. A obra ficou sublime.

O seu êxito foi meteórico, parecia uma corrida contra o tempo, e em 1517 começa a sua derradeira obra "Transfiguração" que não chegou a terminar, acompanhando-o no velório e funeral numa sexta-feira santa, 6 de Abril, dia do seu aniversário.
Transfiguração, Rafael,1517, Museus do Vaticano
Pensava que a beleza devia ser encontrada na natureza e nos sentimentos com uma expressão compreensível, harmónica e serena.
Subiu ao céu da eternidade.


... CARAVAGGIO, pintor controverso, deixou humanismo no sagrado...

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