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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

MIGUEL ÂNGELO EM ROMA

Miguel Ângelo Buonarroti, nasceu génio assim o relatam as biografias escritas ainda na longa vida de escultor, pintor e arquiteto. O estilo épico destes relatos engrandece eventos relacionados com o seu nascimento e infância, supostamente proféticos da sua futura glória.

A Toscana viu-o nascer em 1475, tendo Florença no horizonte. A linda região italiana foi o cenário inspirador das suas artes. Florença era governada por Lourenço de Medici, grande impulsionador e mecenas de artistas, ele próprio considerado erudito, corajoso guerreiro e amante libertino. Miguel Ângelo aproveitou a onda esplendorosa da cidade e, ainda jovem, depois de mostrar o seu talento, foi viver para a “corte” do príncipe onde a entrada era exclusiva aos grandes como Sandro Botticelli. A sua habilidade escultórica denunciava já um futuro promissor que o seu patrono teve a capacidade de perceber.
Porém, Medici o Magnifico morre aos 43 anos, o que representou um duro revés para Miguel Ângelo e para Florença.
Teve dificuldade em enfrentar a decadência da sua urbe culta e graciosa e mudou-se para Roma em 1496.

Pietá” (1498-1499) foi o seu passaporte escultórico para uma estrada romana de sucessos artísticos. Está situada num altar lateral da Basílica de S. Pedro é uma obra para ser observada com a atenção que merece, idealmente com pouca gente, mas é difícil...
Primeiro a face demasiado jovem de Maria, para mostrar a sua serena beleza e nobre resignação, é ela a figura central. O corpo de Cristo parece realmente morto devido à forma dos membros e da cabeça caída. O drapeado das vestes é de uma perfeição excecional se considerarmos a idade do escultor, quando executou esta obra: 23 anos. Muitos não acreditavam que ele fosse o autor, daí ter tido necessidade de inscrever o seu nome na faixa que atravessa o peito de Maria: Michael Angelus. Bonarotus. Florent. Facieba(t), «Miguel Angelo Buonarotus de Florença fez

"Pietá", Miguel Ângelo,1499

A Capela Sistina tem plasmado o seu nome, embora estejam aí representados vários mestres da pintura nas paredes. 
O teto é da sua autoria, pintando-o de acordo com o seu estilo e projeto resistindo ao apelo do papa Júlio II em 1505 que discutia com ele para acabar depressa a obra. Este pontífice no seu leito de morte declarou-se feliz porque Deus lhe havia dado forças para ver a obra de Miguel Ângelo terminada em 1512, e assim já conhecer o reino dos céus.
Pintou sozinho um espaço de 680m2, localizado a 20 m de altura, com uma técnica pictórica que requeria precisão e rapidez, o fresco. Na verdade, estava um pouco contrafeito porque considerava que a pintura era para fracos mas tinha que responder afirmativamente ao Papa. Apesar de muitos considerarem que um único homem não conseguiria pintar uma área daquela dimensão, ele conseguiu, em quatro anos, para provar a si e aos outros, Rafael incluído, que tinha génio em todos os sentidos.
Desenhou o que hoje se chama uma bíblia em quadradinhos, com múltiplas figuras separadas por eixos que criam um efeito interessante para quem vê a 20m de distancia e não pode usar qualquer ajuda para percecionar melhor. Vemos Profetas, Sibilas, todas com simbologia que daria só por si um livro, realmente muita informação, muita beleza, cada pequeno pormenor daria um quadro, como se comprova nestas imagens importadas da internet...
Teto da Capela Sistina, como se vê a 20m de distância

Profeta Isaias
Sibila Libia
Em 1536-1541 realiza um grandioso fresco destinado à parede do altar desta Capela, denominado Juízo Final.Talvez por ser mais acessível ao campo visual do visitante, cria impacto e projeta de forma magistral a vivência deprimida do artista. Retrata-se como um farrapo, talvez a pedir clemência a Deus, relativamente ao seu destino.
Detalhe do Juízo Final com auto-retrato
Nesta obra todos se movem e falam, gritam, aconselham, pedem, é possível sentir os sons, só foi pena é que a multidão visitante e os berros dos guardas não respeitassem esta derradeira súplica dos personagens. A figura de Maria introduz um elemento suavizador para esta enorme energia do julgamento. As figuras são musculadas, fortes, não são belas, amontoadas perdem a individualidade e estão sob tensão, é uma visão premeditadamente perturbadora.
Detalhe do Juízo Final, com Maria
Detalhe do Juízo Final com angustia




















Miguel Ângelo deixou o seu contributo arquitetónico para a imortalidade, entre outras obras em Roma, na magnífica cúpula da Basílica de S.Pedro, a sua súplica aos céus para que encontre a paz que não teve na terra. Usava o contraste entre luzes e sombras, entre maciços e vazios, antecipando-se às grandes criações barrocas de Bernini e Borromini uns anos mais tarde.
Cúpula da Basílica de S.Pedro, Miguel Ângelo
Obteve reconhecido sucesso, mas dizem que teve uma existência angustiada e sombria, não desfrutou da riqueza, lutou contra si e contra os outros.

Antes de morrer em 1564, pediu aos seus discípulos para queimarem esboços, desenhos ou apontamentos que pudessem testemunhar os sonhos que não iria realizar.


... Portugal tem a sua Igreja em Roma, de Santo António...

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