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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

OS PAPAS DA MUDANÇA

João XXIII (1958-1963) foi o papa da atualização, da renovação de uma igreja pós-guerras mundiais, cheia de contradições e de constrangimentos políticos.
Oriundo de uma família italiana modesta, cedo sentiu os problemas sociais dos trabalhadores dedicando no seu apostolado aos desfavorecidos e frágeis e a ações caridosas que serviriam de exemplo e alicerçavam as mudanças que enquanto papa iria introduzir na igreja.
O seu sorriso bom foi a imagem que perdurou, mas a sua grande obra foi a convocação do Concílio Vaticano II, para que fossem abertas janelas de ar fresco na Igreja católica.
Neste concílio foram aprovadas resoluções com a participação expressiva de bispos do terceiro mundo, nomeadamente nas áreas de renovação litúrgica, preocupação com os pobres e diálogo interconfessional.
Na abertura deste concílio, dirigiu-se aos seus fiéis na Praça de S. Pedro com o “discurso da Lua” inaugurando uma nova forma de diálogo simples, direto e comovente:... os artistas do renascimento estão presentes em Roma de uma forma admirável...
 “ poderíamos dizer que até mesmo a Lua está com pressa esta noite... Observem-na, lá no alto, está a olhar para este espetáculo… Voltando para casa, encontrarão as crianças. Dêem-lhes um carinho e digam: "Este é o carinho do Papa." Talvez as encontreis com alguma lágrima por enxugar. Tende uma palavra de consolo para aqueles que sofrem. Saibam os aflitos que o Papa está com os seus filhos, sobretudo nas horas de tristeza e de amargura”

A referida pressa era porque estava doente e queria ver implementadas mudanças na sua Igreja para a aproximar o mais possível dos seus fiéis. Faleceu antes de terminar o Concílio, mas o seu sucessor teria que seguir caminhos irreversíveis.
O seu curto pontificado não foi consensual sobretudo para os católicos tradicionalistas, mas os caminhos foram abertos e as pontes foram construídas para reformas urgentes numa igreja que se devia afirmar de uma forma mais adaptada à mudança dos tempos. Foi canonizado em  27 de Abril de 2014, numa missa presidida pelo atual Papa Francisco.

João Paulo II (1978-2005) polaco, amante de desportos, combatente na II Guerra Mundial contra os nazis, inaugurou uma nova forma de exercer o pontificado, conseguindo unir, dialogar e contactar com os seus fiéis exercendo por isso um papel ativo nos acontecimentos do mundo.
Começou por pedir desculpa pelos erros da sua igreja, a reconciliação era precisa para o diálogo: aos judeus perseguidos, às vítimas da Inquisição, aos muçulmanos mortos pelos cruzados, aos povos da América latina pelos excessos dos missionários, pelo envolvimento de católicos na escravidão africana e pela inatividade da igreja perante o holocausto.
Sorridente quis estar próximo dos fiéis, percorrendo 129 países para conhecer o seu rebanho. As suas viagens apostólicas tiveram um impacto enorme, atraindo multidões, visitando países onde nenhum papa esteve, como a Inglaterra Anglicana. Estátuas comemorativas destas visitas estão espalhadas pelos quatro cantos do mundo, assim como a denominação de ruas e praças. Foi sem dúvida, o mais mediático e diplomático de todos os papas.
Neste contexto, teve uma ação significativa contra o comunismo na Polónia e nos países de leste. Foi o percursor da queda do muro de Berlim.
Teve também um importante papel no diálogo inter-religioso, unindo o que até aí era impensável unir.
Manteve, no entanto, comportamentos conservadores como a reafirmação de doutrinas tradicionais contra a ordenação de mulheres, a contraceção, a homossexualidade e o aborto em todos os casos, sendo fortemente criticado por grupos que não viram satisfeitas as suas pretensões nem entendiam o facto de este papa não acompanhar a mudança dos tempos. Virou-se para a juventude como futuro da igreja, mas talvez tivesse mais adesão se flexibilizasse um pouco as suas convicções. Fica na história como o grande devoto de Maria “Totus tuus”, com a letra M no seu brasão papal.
Local na Praça de S.Pedro onde tentaram assassiná-lo
Tentaram assassiná-lo na Praça de S. Pedro no dia 13 de Maio de 1981 e salvou-se, ficando definitivamente devoto de Nossa Senhora de Fátima, que visitou várias vezes. Ao longo do seu pontificado canonizou 483 santos e em 27 de Abril de 2014 também foi declarado santo.


O Papa Francisco, como todos lhe chamam iniciou o seu pontificado em 13 de Março de 2013. É um papa singular: primeiro papa jesuíta e a usar o nome Francisco, primeiro pontífice do hemisfério sul e da América Latina e a imprimir desde o primeiro dia um cunho muito pessoal ao seu pontificado. Humildemente pede com insistência para rezaram por ele, continua com a mesma morada que tinha como cardeal, usa uma singela cruz da prata da sua Argentina natal e aperta-a frequentemente como que a pedir ajuda. Transporta a sua mala pessoal e não usa sapatos vermelhos “prada”.

Nas suas relações com os fiéis adota uma postura afetuosa com todos, literalmente, mas com especial atenção pelos mais frágeis. O seu sorriso é fácil, mas zanga-me muito com as injustiças do mundo, não poupando palavras para combater claramente o que acha que deve ser combatido.

Na quarta feita que o vi, recém regressado do México, insurgiu-se contra os muros e as barreiras legislativas que aparecem para separar as pessoas e contra a corrupção que corrói as sociedades. No dia seguinte era notícia da primeira página dos jornais!
A sua obra é seguir o cristianismo na sua essência, o pregado por Jesus Cristo.
Papa Francisco discursando na Praça de S.Pedro
Este é um excerto da sua catequese contra a corrupção:

“…Eis onde leva o exercício de uma autoridade sem respeito pela vida, sem justiça, sem misericórdia. E eis a que coisa leva a sede de poder: torna-se ganância que quer possuir tudo. Um texto do profeta Isaías é particularmente iluminante a respeito. Neste, o Senhor adverte contra a ganância dos ricos latifundiários que querem possuir sempre mais casas e terrenos. E diz o profeta Isaías:
“Ai de vós que ajuntai casa a casa,
e que acrescentai campo a campo,
até que não haja mais lugar
e que sejais os únicos proprietários da terra” (Is 5, 8).


Acrescentou:
E o profeta Isaías não era comunista! Deus, porém, é maior que a maldade e que os jogos sujos feitos pelos seres humanos.”

O filme do Youtube sobre este significativo encontro com o papa Francisco, numa manhã magnífica na Praça de S. Pedro. Foi um privilégio.
Praça de S.Pedro em Fevereiro de 2016
https://www.youtube.com/watch?v=A2AkDw1iYtA

... os ARTISTAS do Renascimento estão presentes em Roma de uma forma admirável...

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