Michelangelo
Merisi, da Caravaggio adotou o nome da
terra no norte de Itália que o viu nascer em 1571. Cedo ficou órfão devido à
peste bucólica que fez muitas vítimas. A sua personalidade revelar-se-ia no
futuro com traços de agressividade e revolta fruto talvez de uma infância com
carências afetivas e financeiras.
Com apenas
13 anos, foi enviado para estudar no atelier de Simoni Peterzano, que se dizia
discípulo de Ticiano. Passou quatro anos a aprender o tratamento das cores
segundo o método de Ticiano e o naturalismo da escola pictórica lombarda. Mas a
sua rebeldia contra os convencionalismos da época começava a germinar.
Entre 1585
e 1592 deambulou nas regiões da Lombardia e Véneto onde assistiu ao nascimento
das tendências barrocas mais especificamente o “tenebrismo” que é uma
radicalização do princípio claro/escuro, do qual se tornaria o seu principal
intérprete.
Roma iria
ser para sempre a sua casa a partir do fim do século XVI, embora tivesse que se
ausentar temporariamente devido à sua vida inquieta. Deambulou pelas ruas,
esfarrapado, com mau aspeto e sem morada fixa. Encontrou trabalho como pintor
de flores e frutos no atelier de Giuseppe Cesari, artista do papa Clemente VII.
Mas essa
temática era muito redutora para a sua mente errante e para as suas pinceladas
de génio. Queria pintar pessoas como as via na rua, com rugas, descalças, sujas.
Não se importava se era aceite, gostava de ser verdadeiro. Resolve
estabelecer-se por conta própria e enfrentar os altos e baixos da vida que
escolheu.
Os seus modelos eram os seus companheiros de farra, que viviam como ele um quotidiano de luta pela sobrevivência. Nas suas pinturas aparece frequentemente um jovem, seu companheiro, que pinta com realismo e lhe serve de inspiração para vários quadros. Representa-o com ternura, a sorrir, com flores e frutos, a tocar música, a oferecer gentilmente um copo de vinho para alegrar a alma. Talvez fosse o seu raio de luz!
Cesto de frutas, Caravaggio, 1596 |
Os seus modelos eram os seus companheiros de farra, que viviam como ele um quotidiano de luta pela sobrevivência. Nas suas pinturas aparece frequentemente um jovem, seu companheiro, que pinta com realismo e lhe serve de inspiração para vários quadros. Representa-o com ternura, a sorrir, com flores e frutos, a tocar música, a oferecer gentilmente um copo de vinho para alegrar a alma. Talvez fosse o seu raio de luz!
Rapaz com cesto de frutas,Caravaggio, 1593 |
Baco, Caravaggio, 1595 |
Tentou ser independente e pintar o que lhe apetecia, para sobreviver, mas teve que se vergar às exigências de quem lhe podia pagar bem. Resiste à temática religiosa, acaba por ceder, mas mantém o estilo e a sua interpretação do divino, como algo ligado à realidade humana. Talvez seja o aspeto mais apreciado atualmente, mas não o foi enquanto viveu, tendo que modificar quadros ou assistir à sua rejeição.
O cardeal
Francesco Maria del Monte, apreciador do seu trabalho, acolhe-o no seu Palácio
Madama, perto da Igreja de S. Luís dos Franceses. A sua rampa de lançamento
para a temática religiosa foram as três pinturas da Capela Cantarelli desta
Igreja.
A primeira obra pintada e para mim a mais expressiva é a Vocação de
S. Mateus (1599-1600). O quadro é escuro e é apenas iluminado por uma luz
do lado direito, onde está Jesus apontando para Mateus. Parece dizer: “Segue-me!
“e Mateus
duvida se é para ele o chamamento. Os restantes personagens, trajados de
acordo com a moda do século XVI, reagem de forma diferente. O mais novo
inseguro apoia-se em Mateus, o da frente prepara-se para reagir, os outros
estão preocupados com as moedas dos bens terrenos e não reparam, perderam a
oportunidade de seguir Cristo. Esta pintura é um corte radical com o idealismo
renascentista, sempre belo. Pretende ser real, a voz sente-se nas expressões
faciais dos personagens, apanhados pela entrada repentina de Jesus e Pedro,
vestidos de acordo com o tempo em que viveram.
Caravaggio arriscou, nunca ninguém tinha interpretado desta forma o sagrado, para uma igreja, certamente dividiu opiniões, o cardeal deve ter hesitado, mas mante-se até hoje para ser admirada e iluminada constantemente pelas moedas dos turistas.
Continuou a trabalhar em temas religiosos do Antigo e Novo Testamento de acordo com as solicitações do momento. Manteve sempre o seu estilo realista e teatral.
Na minha opinião, este último aspeto comunicacional contribuiu para perpetuar a sua obra, para além das pinceladas geniais que olham, falam e sentem.
Esta cena
é um exemplo concludente da mestria realista de Caravaggio. Ouvimos o grito do
general, sentimos a apreensão da idosa e a crueldade fria da matadora. Nunca
pode provocar indiferença. Diria que é uma fotografia, instantânea de quem consegue
captar o momento exato.
Vocação de S. Mateus, Caravaggio, 1599-1600 |
Caravaggio arriscou, nunca ninguém tinha interpretado desta forma o sagrado, para uma igreja, certamente dividiu opiniões, o cardeal deve ter hesitado, mas mante-se até hoje para ser admirada e iluminada constantemente pelas moedas dos turistas.
Continuou a trabalhar em temas religiosos do Antigo e Novo Testamento de acordo com as solicitações do momento. Manteve sempre o seu estilo realista e teatral.
Na minha opinião, este último aspeto comunicacional contribuiu para perpetuar a sua obra, para além das pinceladas geniais que olham, falam e sentem.
Judite e Holofeme, Caravaggio,1599
|
A sua
pintura projeta os seus conflitos pessoais, um debate entre a luz e a sombra,
realçando o sentimentos das personagens, tornando evidentes as expressões
faciais e a musculatura do movimento do corpo, iluminado de uma forma
premeditada, mas controversa figuras religiosas a partir de modelos de mendigos
e prostitutas.
Os seus anjos têm asas pretas!
Crucificação de S.Pedro,Caravaggio,1600 |
Os seus anjos têm asas pretas!
Amor vincit omnia,excerto, Caravaggio, 1610 |
Não é caso
único de artista que durante a vida enfrentou dificuldades, miséria, adotou
comportamentos rejeitados socialmente, foi marginalizado e apreciado, para
perder tudo e começar novamente, numa montanha russa paradoxalmente necessária
à sua criatividade.
Foi
encontrado morto sozinho, numa praia deserta aos 38 anos, em 1610, quando
tentava reconciliar-se com a vida e continuar a pintar.
... a obra de BERNINI, foi longa como a sua vida, teve tempo...
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