CulturaSentidaS: TOLEDO - Cultura Cristã II

Um destes pormenores foi um “chapéu” cardinalício literalmente pendurado num candelabro da catedral. De quem seria, porque estava ali?

Reparei que se assemelhava ao trabalhado em ferro do gradeamento da entrada e depois encontrado também noutros ornamentos da catedral.

A curiosidade foi satisfeita mais tarde, quando pesquisei e associei o símbolo ao brasão do cardeal Cisneros, nome que já tinha aparecido em ruas e hotéis de Toledo. Interveio na catedral mandando realizar o dourado retábulo do altar mor e a interessante Capela Moçárabe.

Foi realmente uma personalidade política com muito poder no tempo áureo do reinado dos reis católicos e seus sucessores. No ano de 1492, a rainha Isabel a católica escolheu-o como seu confessor e em 1495 foi nomeado arcebispo de Toledo, o que significava ter o maior poder a seguir à coroa. A pedido do rei Fernando o católico, assume a regência do reino de Castela, por morte prematura de Filipe I, casado com Joana sucessora do trono, que nunca se recompôs desta perda. Sucedeu com oitenta anos ao rei Fernando, assumindo pela segunda vez a regência do reino até que o jovem príncipe Carlos, filho de Joana, que se encontrava na Flandres, viesse para Espanha para ocupar o trono. Participou portanto em grandes decisões, sabendo gerir de forma eficaz todo a oposição de setores da nobreza e também o equilíbrio de poderes entre os dois reis católicos. Promoveu obras de beneficência e culturais, aproveitando a sua influência. Porém, nunca se esqueceu que era franciscano e por baixo das suas luxuosas vestes sempre usava um humilde hábito desta ordem.

Cardeal Cisneros

Os Reis Católicos recebendo Colombo com o cardeal Cisneros à esquerda

A Catedral de Toledo como a vemos atualmente, é fruto de muitas intervenções ao longo dos séculos, daí que podemos encontrar estilos artísticos heterogéneos.
Para mim foi difícil fotografar, olhar para o conjunto. Tive que procurar situar-me nalgum espaço que me caracterizasse um determinado propósito ou uma determinada época ou estilo.
Deparamo-me com várias capelas, de prelados e reis, encomendadas em vida para que a entrada no céu fosse facilitada, mas são muitas e ricas que se torna complicado numa primeira visita uma atenção concentrada nos respetivos estilos e histórias.

Porém, o claustro chamou a minha atenção. Paredes inteiras adornadas com frescos, absolutamente belos, é para parar e reparar.

Situado no lado norte da Catedral, forma um quadrado com 52 metros em cada lado. Foi edificado no mesmo lugar onde se situava o mercado da judiaria.

Mais uma vez as culturas sobrepõem-se.

Originalmente estas paredes estiveram pintadas com frescos ilustrando a vida de Cristo, mas deterioraram-se. Em 1776, o cardeal Beltrán pediu os pintores Mariano Salvador Maella Pérez e Francisco Bayeu Subías para pintarem novamente as paredes, agora com cenas de santos toledanos e o resultado ficou belo.

Esta catedral tem outra particularidade distintiva das outras.

Uma sacristia transformada num excelente museu, com peças religiosas como a riquíssima custódia e com obras pictóricas de Goya, Morales, Van Dyk, Ticiano, Rafael, Caravaggio...