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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

TOLEDO - "El Greco"

Doménikos Theotokópoulos nasceu em Creta no ano de 1541, ilha pertencente à República de Veneza que nessa época era um centro pós-bizantino. Aos 26 anos viaja para Veneza para tomar contacto com as tendências artísticas vigentes, sendo influenciado por Ticiano e Tintoretto.

Em 1570 mudou-se para Roma epicentro da arte e dos mecenas. Hospedou-se no Palácio Farnese, tornado pelo Cardeal Farnese um centro pulsante da vida intelectual e artística da cidade. Rafael e Miguel Ângelo já tinham morrido, era consensual o seu valor artístico, as suas obras tinham ficado para a eternidade. Doménikos queria imprimir um novo estilo à sua obra e tentou reagir à influência de Miguel Ângelo. Chegou até a propor ao papa Pio V, repintar o Juízo Final da Capela Sistina, de acordo com um mais rígido pensamento católico. Obviamente não teve sucesso e criou até tensões na sociedade artística romana.

Emigrou para Madrid em 1577, onde havia prosperidade financeira, devido a remessas de metais preciosos do mundo recém-descoberto. Filipe II estava a construir o imenso palácio/mosteiro do Escorial e precisava de pintores para a sua obra. Era a oportunidade que Doménikos necessitava e estrategicamente escolheu Toledo para viver, capital religiosa de Espanha e onde se geravam influências junto dos prelados possibilitando a entrada na corte do monarca. Na verdade entrou, as encomendas surgiram, mas o austero Filipe II não gostou do seu estilo.

El Greco, como ficou conhecido devido à sua origem, mesmo assim considerou manter-se em Toledo e montou um atelier. Contactou pessoas influentes e conseguiu algumas encomendas.

A mais emblemática, denominada "El Espólio" 1577-1579, e assinada com o seu verdadeiro nome está exposta em lugar destacado na sacristia/museu da Catedral de Toledo, contribuindo decisivamente para a sua reputação como pintor.  

Cristo aparece com uma impressionante túnica vermelha púrpura que domina o centro da composição. Essa túnica sem costuras para não ser repartida, foi-lhe dada por Herodes, e iria ser sorteada antes da sua crucificação, cumprindo uma profecia do Velho Testamento. 

El Espólio, El Greco, 1577-1579
Realmente ao entrar na sacristia o que ressalta imediatamente é a cor, é ela que nos orienta para a mensagem, para o protagonista, depois olhamos para os detalhes, nomeadamente a armadura do século XVI do militar ao lado de Jesus e a expressão das mulheres a presenciar os antecedentes da crucificação. Francisco Pacheco del Rio, pintor e teórico de El Greco disse que ele gostava das "cores cruas e sem misturas, em grandes borrões como uma exibição orgulhosa de sua destreza.

Outra obra emblemática deste pintor foi encomendada para a Igreja de S.Tomé, onde ainda está exposta: "O enterro do Conde de Orgaz" de 1586-1588.

O Enterro do Conde de Orgaz, El Greco, 1586-1588

O quadro representa um milagre. Segundo a tradição Santo Estevão e Santo Agostinho baixaram do céu para enterrar pessoalmente o Conde de Orgaz, falecido em 1323, como compensação da sua vida exemplar de devoção humildade e caridade. As instruções do mandatário da obra eram as seguintes: " ... na tela tem-se de pintar uma procissão, com o cura e os outros clérigos que estavam fazendo os ofícios para enterrar ...o senhor da vila de Orgaz, e baixaram Santo Agostinho e Santo Estevão para enterrarem o corpo deste cavaleiro...e em cima de tudo isso tem-se de fazer um céu aberto de glória..." 

El Greco seguiu à risca o pedido, mas manteve o estilo próprio. Fez-se representar como testemunha emocionada desta cena e também o seu filho à esquerda apontando para o conde. Na parte superior, a espiritual, vemos Deus, os santos e um anjo que leva a alma do protagonista para o céu. 

O quadro "A Abertura do Quinto Selo" 1608-1614, está no Museu Metropolitano de Nova York, portanto não foi visto em Toledo. 

  Abertura do Quinto Selo , El Greco, 1608-1614

Refiro-o porque foi das últimas pinturas de El Greco e é uma síntese da sua visão artística: as cores são quase puras, as figuras alongadas, iluminadas por um efeito claro-escuro. S. João domina o quadro; atrás dele as almas nuas contorcem-se desesperadas à espera da salvação. 

El Greco tem um estilo tão próprio que é difícil inseri-lo numa das escolas convencionais. A sua pintura tem influências bizantinas e ocidentais. Exprime-se de uma forma dramática, talvez tortuosa, cada figura parece trazer a sua própria iluminação.

Os seus contemporâneos tiveram dificuldade em compreendê-lo, mas encontrou grande apreciação no século XX, sendo considerado por alguns percursor do cubismo. Este óleo foi sugerido como sendo fonte de inspiração de Picasso em "Les Demoiselles d'Avinhon".

A visita à casa-museu de El Greco é interessante pelo significativo acervo artístico do pintor e para sentir a atmosfera onde viveu e pintou as suas obras. 

Casa Museu de "El Greco"

A paisagem envolvente é inspiradora e viu-o falecer em 7 de Abril de 1614.

... embalada pela arte e culturas vou a ROMA... 



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